Estive em missão pela AMI nas terras altas e baixas da Papua Ocidental, na Indonésia, a prestar cuidados de saúde primários, incluindo as Doenças da Infância, e a dar formação a enfermeiros e voluntários de saúde locais nas muitas aldeias tribais da Papua Ocidental. Esta região é uma das zonas mais primitivas do mundo.
Em agosto de 2003, enquanto eu estava a dar as minhas consultas numa aldeia com mães e crianças doentes, houve uma grande agitação dos aldeões. Pedi então ao chefe da aldeia que fosse ver o que se passava. Passados 15 minutos, ele veio ter comigo e disse-me que os outros aldeões tribais queriam entrar em guerra com eles (a arco e flecha), e que lhes tinha respondido que naquele momento não podia ser, dada a presença do médico da AMI a trabalhar na aldeia. Assim, as outras tribos acataram e regressaram à sua aldeia.
Como seria bom que, nas guerras atualmente em curso por todo o mundo, [os líderes] aprendessem com os papuas ocidentais a negociar e a parar o derramamento de sangue…
Numa outra ocasião, em 2004, quando eu estava a trabalhar com um enfermeiro local e uma pessoa do programa de água e saneamento da Unicef (WASH)), a equipa da AMI foi convidada por outra aldeia para ir assistir aos seus serviços religiosos num domingo e dar consultas médicas. Na véspera da viagem, houve uma grande chuvada que provocou um deslizamento de terras no caminho estreito da montanha. Cerca de 20 homens papuas da referida aldeia decidiram fazer uma “ponte humana” para eu poder atravessar a derrocada. Coloquei o meu pé de um ombro dos homens para outro e disse a mim mesmo: “Meu Deus, por favor protege-me para não cair desta montanha e cuida sempre da minha família nas Filipinas”. Graças aos papuas, consegui atravessar o deslizamento de terras e continuar o trabalho na aldeia.
Manuel de Lara
Médico Voluntário da AMI
Atualmente em missão com a Organização Mundial de Saúde no Afeganistão