Para comemorar os 40 anos da AMI, fui desafiada a dar o meu testemunho e falar da minha experiência enquanto voluntária. Não é fácil, em poucas palavras, confirmar o extraordinário trabalho que a AMI faz a nível nacional e internacional…
Sou professora de Português/Francês e conheço a AMI há muitos anos. Em 2007 tornei-me voluntária e desde então tenho apoiado e colaborado nas suas mais variadas iniciativas: o peditório anual, as várias recolhas de bens, nomeadamente para a Campanha Escolar Solidária AMI/Auchan, a “Aventura Solidária” e o “Linka-te aos Outros”.
Destaco estes dois últimos projetos que me tocam muito em particular:
“Aventura Solidária”
Participei nas três aventuras solidárias internacionais que a AMI proporciona a quem, como eu, adora “viajar contra a indiferença e conhecer o mundo tal como ele é”:
- Senegal: 3ª missão em 2008
- Brasil: 1ª missão-piloto em 2009
- Guiné Bissau: 4ª missão em 2010
Na verdade, foi uma excelente forma para fazer parte de uma missão da AMI e poder participar e contribuir num projeto de desenvolvimento internacional. Com estas missões, pude confirmar a presença da AMI em vários locais que visitámos e pude também constatar que a AMI tem, de facto, muito impacto nas populações onde desenvolve os seus projetos. Fomos sempre muito bem recebidos pelas comunidades locais, com carinho, com alegria e com muita emoção.
No Senegal, o projeto centrou-se na reabilitação do Centro de Nutrição e do Centro Feminino de Réo Mao. Fomos recebidos ao som das batucadas e pudemos confirmar a simpatia e a amizade do povo senegalês e a curiosidade das dezenas de crianças que nos rodearam.
No Brasil, reabilitámos a sala onde funciona a Oficina de Artes Visuais da Associação Comunitária de Milagres (ACOM) e o auditório da instituição; e colaborámos na implementação da mandala (sistema de irrigação na agricultura de subsistência). Como se tratou da missão-piloto, sentia-se uma grande expectativa e curiosidade relativamente ao facto de virmos “de tão longe para pintar paredes”.
Na Guiné-Bissau, o objetivo do projeto foi a construção da escola primária de São João constituída por duas salas de aula. Durante a missão e assim que atracávamos e descíamos do barco, éramos recebidos, todas as manhãs, por dezenas de crianças muito felizes, de entre as quais recordo um menino de 6 anos, o Baticano, meu companheiro nesse percurso diário de cerca de 1km até à escola em construção.
A Aventura Solidária foi, sem dúvida, o projeto da AMI que mais me marcou, destacando em particular o contacto direto com as pessoas e as cerimónias de inauguração (muito emotivas!) dos diferentes edifícios construídos e entregues às comunidades apoiadas pela AMI.
As três missões são inesquecíveis, mas foi a do Senegal que mais me marcou, talvez por ter sido a primeira. Nunca me vou esquecer do dia em que, enquanto se ultimavam os preparativos para a cerimónia de inauguração do Centro de Nutrição, cerca de 300 crianças subnutridas, integradas no programa de nutrição da AMI e acompanhadas pelas mães, foram-se juntando em pequenos grupos e puderam saciar-se com uma mistura de cereais moídos, diluída em água açucarada. Recordo esse mar de gente sentada no chão, à sombra, bebendo ou comendo, à mão ou à colher, essa saborosa papa… Outro episódio muito marcante foi a visita às escolas locais com mais de 50 alunos por turma. Entrámos numa sala de aula para entregar o material escolar que levámos de Portugal e, numa cerimónia solene, os melhores alunos receberam, tímida mas orgulhosamente, uma calculadora solar. Os olhares, o silêncio, a curiosidade… Todas as salas de aula são iguais em todo o mundo, podendo ter, no entanto, mais ou menos material, mais ou menos condições. Ali, os equipamentos não abundam, é um facto, mas, entra-se numa sala de aula e sente-se a avidez de saber, a persistência no estudo, o respeito pelo conhecimento…
Estes dois episódios são excertos do Diário da Missão do Senegal que tive o privilégio de escrever e que me permitiu viajar uma segunda vez e reviver toda a experiência, aquando da sua redação.
O projeto Missão Aventura Solidária está muito bem organizado, aliando trabalho voluntário e atividades culturais ou de lazer, dando oportunidade de contactar de perto com as comunidades e as populações locais e de participar nas variadíssimas tradições culturais.
Contribuir para a sustentabilidade de projetos em localidades/países desfavorecidos foi uma experiência muito interessante, marcante e única. Assistir ao impacto do nosso trabalho e ao seu reconhecimento pelas populações locais é inesquecível…
Recomendo vivamente este tipo de experiência, indo de preferência sozinho, já que o facto de ter participado sem conhecer ninguém, permitiu-me sempre um maior envolvimento nas equipas de aventureiros solidários e nas diversas atividades. Não conhecia ninguém, mas fiz grandes amigos em todas as missões e também na AMI.
Qualquer aventureiro, à partida, deve estar bastante aberto e recetivo relativamente à comunidade local e país que vai visitar, uma vez que nos é proporcionado um contacto e um envolvimento direto com essa população. Refiro-me essencialmente ao respeito pelas diferenças culturais. Por outro lado, umas das regras é seguirmos sempre as orientações do Chefe de Missão que, melhor do que ninguém, conhece “o terreno”.
Tenho muito orgulho em ter participado nestas Aventuras Solidárias e gostaria de regressar a essas localidades e visitar de novo essas comunidades.
“Linka-te aos Outros”
É para mim uma honra colaborar neste excelente projeto financiado pela AMI que vai já na 14ª edição.
Fui convidada a integrar o júri de concurso “Linka-te aos Outros” em 2011 (inicialmente “Liga-te aos Outros”) e é, desde a 1ª edição, que apoio e acompanho com muito carinho este projeto que tem como objetivo envolver os jovens (do 6º ao 12º ano) na resolução de problemas diversos, detetados na sua comunidade, através de atividades de voluntariado e com o apoio de parceiros locais.
De ano para ano, e apesar de todos os constrangimentos ligados à profissão docente, confirmo a persistência de muito professores e alunos envolvidos em todo o tipo de projetos de melhoria social ou ambiental. Ao apresentarem a sua candidatura, estes “verdadeiros agentes de mudança” podem ver o seu projeto aprovado e financiado em 90% (AMI), contribuindo, assim, para a promoção de uma cidadania ativa e para o respeito dos Direitos Humanos.
Agradeço à AMI os AMIgos que fui encontrando desde que sou voluntária, e todas as oportunidades em que pude contribuir para tornar o mundo um pouco melhor.
Muito obrigado!
Filomena Cardoso