Foi-me pedido, pelo Departamento de Imagem e Comunicação da AMI, que escrevesse um episódio que me tivesse marcado ao longo dos quarenta anos desta Instituição que fundei e presido desde então.

Foram largas centenas, para não dizer alguns milhares de histórias que me marcaram nessa longa caminhada, sem contar aquelas que me tocaram para sempre na minha prévia ação durante uma década noutras instituições onde fui voluntário: fome, guerras, terramotos, ciclones, secas, tsunamis, pobreza extrema.

Uma história, entre centenas de missões em 82 países? Tarefa quase impossível!

Como decidir entre alguns dos meus heróis do Zimbabué, Uganda, Afeganistão, Líbano, Palestina, Bangladesh, Sri Lanka, Índia, Bolívia, PALOP, Brasil, Ruanda, e Portugal???

Terá de ser então! Uma história por mim vivida em África, o Continente onde nasci.

Uganda. Numa aldeia a cerca de duas horas de caminho de Kampala. Um pai paupérrimo de três filhos que educava sozinho, atormentado pelo HIV.

Fui visitá-lo umas três ou quatro vezes ao longo da segunda década do século vinte e um e desse senhor recebi uma das maiores lições de vida: ensinou-me o que é ser corajoso, resiliente, persistente, honesto e trabalhador!

Soube agarrar com mãos, unhas e dentes a cana de pesca que a AMI lhe entregou através de microcréditos que concedemos a uma organização local ugandesa. Até então na miséria absoluta, vivia numa choça com uma única divisão com os seus três rapazes dos cinco aos nove anos, passou a viver com dignidade fabricando tijolos artesanais, pondo os três filhos na escola, cultivando um pequeno terreno que comprou e criando galinhas, patos, porcos e até uma vaca… para já não falar nas duas bicicletas que comprou para ele e o filho mais velho e na casinha de três divisões que construiu com os próprios tijolos que produziu, excetuando aqueles que vendia noutros lugares e que transportava de bicicleta pelos caminhos rurais, de terra, nas suas vizinhanças…

O meu Amigo foi, é e sempre será para mim, o exemplo do Ser Humano, que ficou sempre humilde e me iluminou e encorajou a continuar a minha própria caminhada mesmo como não poucas vezes me aconteceu, com um céu de breu e um horizonte perturbador…

Muito obrigado meu Bom Amigo. Graças ao seu exemplo ainda não desisti de lutar!