Susana Reis

Diretora do Centro Porta Amiga
da AMI de V.N. Gaia

Susana Reis - Diretora do Centro Porta Amiga da AMI de V.N. Gaia

Parabéns à AMI, pelos seus 40 anos! Estou muito grata e orgulhosa por poder fazer parte desta história, e por “ser AMI”, há 20!

E são tantas as situações que tenho vivido nesta casa, todas elas marcantes, diferentes e únicas. Porém, há algumas que ainda hoje, quando as recordo, obrigam-me a esboçar um sorriso de alegria e sensação de missão cumprida.

Há uns anos, estávamos a servir o almoço de Natal àqueles, cujo único almoço digno, ou próximo do que é o de uma família, é o nosso. As colegas da equipa de rua, tardavam em chegar ao centro, haviam ido distribuir uns “miminhos” de Natal às pessoas que acompanhavam, em condição de sem abrigo. Estranhámos a demora.

Quando chegaram, traziam um semblante carregado e mostravam-se inconformadas, pelo que tentámos perceber o que se passava. Vinham do Porto, onde tinham contactado com um novo caso, sem o típico perfil de sem abrigo e até de certa forma, quase um estranho no meio dos outros, posto de parte. Muito debilitado, extremamente magro, com atrofia muscular grave, parecia ter desistido de tudo. As colegas não ficaram sossegadas. Pouco ou nada conseguiram saber dele.

Mal sabíamos nessa altura, que esse homem, depois de um longo processo, iria aceitar a nossa ajuda, sair da rua, recuperar a saúde, recuperar laços familiares perdidos, chegando até a integrar, como colaborador, a nossa casa. Em suma, recuperou a sua dignidade e refez a sua vida, numa jornada excecional. Manteve sempre a sua amizade connosco e, em forma de gratidão, retribui-nos, sensibilizando outras pessoas que passam pela mesma situação, com o seu exemplo e facilitando-nos a aproximação e intervenção social, com alguns casos mais complexos.

Guardo esta história com carinho e não me esqueço deste primeiro dia em que ouvimos falar deste beneficiário. O início de uma história e percurso de luta e superação!

Uma outra história, também nos remete ao Natal. Chovia torrencialmente e estávamos em plena festa. Já estava um grupo de dança a atuar e aguardávamos a chegada de uma Tuna académica que estava presa no trânsito. A festa ia a meio e a equipa pensava na ausência de um dos beneficiários mais antigos, por quem temos um carinho especial, atendendo à sua condição, e que sempre adorou as festas de Natal.

A sua grave condição psiquiátrica faz com que, por vezes, desapareça durante uns tempos e ninguém saiba do seu paradeiro. Estava desaparecido há quase uma semana, o que nos causava muita preocupação. Ninguém sabia dele. Ligou-se para os hospitais, para o pastor da igreja, que lhe dá guarida, para as autoridades. Enfim, nada.

Ainda em plena festa, já com a tuna em palco, entram dois agentes da polícia a acompanhar o nosso beneficiário. Encontraram-no numa rua, onde logo lhes mostrou um pequeno papel, que tirou do seu bolso, no qual estava escrito “AMI” com o nosso telefone. Que alegria! O senhor juntou-se rapidamente à sua “família” AMI, dançando e espalhando a sua alegria por todos!!

São estas histórias que nos movem, e que provam que o nosso trabalho faz a diferença na vida de alguém. É uma grande felicidade poder contribuir para isso!

Susana Reis

Diretora do Centro Porta Amiga da AMI de V.N. Gaia

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